Na minha experiência pessoal e através da observação de outras famílias bilíngues nos últimos anos, aprendi que o primeiro passo para quem quer inserir um segundo – ou mais – idioma(s) em casa é identificar e definir a estratégia ou método que funciona melhor no contexto da família, isto é, qual estratégia proporcionará a exposição de maior qualidade do(s) idioma(s) minoritários às crianças? Lembrando sempre que devemos levar em consideração as características e peculiaridades de cada família para poder fazer a melhor escolha. Definir e ter acordo sobre a estratégia a ser utilizada é essencial para manter a harmonia, o foco e a motivação dos responsáveis pela tarefa de ensinar um novo idioma às crianças. Tudo que a gente consegue planejar e organizar funciona bem melhor, não é mesmo?
Aqui em casa, por exemplo, antes dos meus filhos nascerem eu já sabia qual estratégia queria utilizar e isso me ajudou a ficar muito mais segura em relação à criação deles, e muito menos suscetível a críticas, dúvidas ou falsas afirmações sobre o seu desenvolvimento linguístico. Informação é poder. Quanto mais você souber sobre o assunto antes de embarcar na ‘missão bilíngue’, mais tranquila será a sua experiência – e muito mais agradável também – pode acreditar!
Pensando nisso, listei aqui os 4 principais métodos utilizadas por famílias bilíngues ao redor do mundo. Espero que te ajude a encontrar a mais adequada para a sua também!
OPOL – “One Person/Parent, One Language”
É o que utilizamos aqui em casa e também o mais conhecido. É simples assim: cada adulto (ex: mãe e pai) se comunica somente em um idioma com a criança. No nosso caso, eu falo somente em inglês com as crianças e meu marido, em português. Essa estratégia é perfeita pra famílias que têm pais de nacionalidades diferentes, ou como é conosco: apenas um dos pais é fluente no segundo idioma que se deseja passar aos filhos.
A desvantagem: se o adulto que fala o idioma minoritário com a criança é quem passa menos tempo com ela, pode ocorrer de não haver exposição suficiente à língua minoritária, o que poderia então ocasionar um bilinguismo passivo: a criança entende, mas não responde neste idioma, apenas no majoritário.
ML@H – Minority Language at Home
Bem simples e perfeito para famílias expatriadas, por exemplo. Funciona assim: se ambos os pais vieram de um mesmo país mas moram em outro, em casa a comunicação ocorre exclusivamente em sua língua materna. A estratégia garante uma exposição de qualidade e boa frequência para as crianças, que terão, em muitos casos, apenas este contato com a língua de seus pais. Também funcionaria bem com famílias onde ambos os pais fossem fluentes num mesmo segundo idioma, como o inglês, por exemplo.
As desvantagens: se a criança ainda não frequenta a escola, quando entrar pode estar um pouco “atrasada” em relação às outras crianças na língua da comunidade; se um ou dois dos adultos não for nativo, pode se sentir desconfortável e/ou insegura de se comunicar de modo contínuo com a criança no segundo idioma.
Time and Place (Hora e Lugar)
Esta estratégia leva em consideração o contexto (hora e lugar) da família em cada momento para a escolha do idioma a ser utilizado. Dependendo de onde, quando, e com quem ela se encontra, deverá utilizar diferentes idiomas. Acredito que este seja uma boa opção para famílias tri ou multilíngues. Funciona assim: são estabelecidos horários e locais para o uso de cada idioma. Por exemplo, de manhã se usa o francês, de tarde, o espanhol e à noite o português. Também podem ser definidos dias específicos da semana pra cada língua. Ou ainda, os lugares, que podem ser a casa de parentes, o parquinho da praça, determinados ambientes da sua casa, etc. Você pode até criar um cantinho especial pro segundo idioma, onde a criança possa ouvir música, ler livros, ter acesso a elementos da cultura, etc. Algo que torne interessante e especial a ideia de falar outros idiomas.
As desvantagens: pra mim, esse é um pouco mais difícil de praticar, porque exige disciplina, organização e planejamento muito maiores do que os outros. Sem um bom planejamento, a constância pode ser prejudicada, podendo gerar alguma confusão. A exposição também pode sofrer uma diminuição caso a criança se apegue mais a um dos idiomas e acabe não voltando ao outro como precisaria.
MLP – Mixed Language Policy
Resumindo: fala-se qualquer língua a qualquer momento, sem uma estrutura planejada ou pré-definida.
As desvantagens: por não haver estrutura ou planejamento, torna-se difícil saber ao certo qual o nível ou qualidade de exposição da criança ao idioma minoritário. Ao meu ver, é uma proposta do tipo ‘sem pressão’ mas que também não pode gerar muita expectativa em torno da evolução da criança. O que vier é lucro.
Enfim, devo frisar aqui que não existe uma estratégia certa ou errada. Todas elas têm seus prós e contras. Cabe a nós identificarmos qual a mais adequada para o contexto particular da nossa família. Achei importante mencionar algumas das ‘desvantagens’ desses métodos apenas para trazer mais informação, mas acredito que todas elas podem ser contornadas com um pouquinho de esforço e dedicação.
Independente do método que você venha a escolher, a palavra-chave é CONSTÂNCIA. Identifique e coloque em prática a sua estratégia e vá fundo! Você pode não conseguir executar o plano perfeitamente assim, de cara, mas não desista! Lembre-se de que “A prática leva à perfeição e o erro, à excelência!”
Estamos juntos nessa! 😉
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